Skip to content Skip to sidebar Skip to footer

Uma das atividades mais perenes desenvolvidas com as dez comunidades Guarani pelo Instituto de Estudos Culturais e Ambientais (IECAM), o viveirismo promove o cultivo de mudas de árvores que colaboram para o alimento e a disseminação de tradições Guarani, além de preservarem a floresta por meio do plantio. 

Na Teko’a Anhetengua (Aldeia Verdadeira/da Verdade), localizada na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre (RS), a proposta pioneira do viveirismo é semear, repicar e multiplicar as espécies, introduzi-las ou reintroduzi-las nas áreas indígenas e encaminhar o excedente a outros territórios indígenas que não tenham viveiro, mas têm interesse em reflorestar, reconverter, agroflorestar. E, no futuro, gerar renda para as comunidades também.

A produção das mudas começa com a coleta, seleção e preparo de sementes em áreas preservadas e segue com a semeadura e os cuidados iniciais. A partir do brotar das primeiras folhas, há uma seleção das mudas mais fortes, que se desenvolvem e são preparadas para o plantio em campo. “No viveiro- estufa, as mudas têm sua temperatura e umidade adequadas mantidas, sobrevivendo ao frio e ao calor extremos”, conta Nicolas Lemus Machado, engenheiro agrônomo responsável pelos inventários de sementes e mudas no IECAM para a realização da 4a fase do Projeto Ar, Água e Terra. “Fazemos o controle das espécies que estão para plantio, já estão em desenvolvimento, ou as que precisam se recuperar”, explica. 

Os viveiros-estufas foram projetados respeitando aspectos da cultura Guarani, como a orientação solar de acordo com as divindades, a criação de um espaço interno para realização de reuniões e oficinas e o uso de materiais como taquara e capim santa fé, comuns em habitações tradicionais indígenas e nas casas de reza. Toda a construção segue a metodologia de construção participativa entre as equipes indígena e não indígena do Projeto.

Para integrar os conhecimentos e tradições Guarani com padrões de construção sustentável, houve a implementação de sistemas de captação de água da chuva buscando a harmonia entre a tradição e a inovação, além da instalação de sistema fotovoltaico no próprio viveiro-estufa.

O conhecimento e a prática que envolve a semeadura e o cultivo das espécies, nos viveiros, são repassados para os Guarani pelos técnicos não-indígenas e pelos próprios viveiristas (cuidadores) guarani. Também são realizadas oficinas abordando temas como identificação e uso das espécies, reciclagem de resíduos sólidos e compostagem. 

Respeitando as especificidades culturais e os ambientes naturais e demandas de cada aldeia, as atividades de viveirismo do projeto já possibilitaram o cultivo de mais de 20 mil mudas e o plantio de mais 50 mil mudas de 100 espécies. Dentre essas, há as frutíferas nativas, erva-mate/ca’a (Illex paraguariensis) e palmeiras/pindó; aguaí (Chrisophyllum marginatum), taquara/takua eté (Merostachys speciosa), embira (Daphnopsis fasciculata), pau-leiteiro/Kurupicay (Sapium glandulatum), urucum/capi owy (Bixa orellana), entre outras

“O urucum é considerado uma espécie sagrada pelos Guarani, usada para fazer a tinta vermelha com a qual se pintam”, conta Nicolas. “As palmeiras são muito interessantes, porque dão frutos, atraem animais, e aí você tem uma dispersão maior das sementes. A pata-de-vaca já é uma espécie medicinal. Mas não trabalhamos com nenhuma espécie exótica, como o pinus, por exemplo, utilizado para reflorestamento”, finaliza.

Leia Também